domingo, 10 de agosto de 2008

"Faustina"

Faustina

Faustina corre aqui depressa
olha quem está no portão
É minha sogra com as malas
ela vem decidida a morar no porão
Vai ser o diabo, vamos ter sururu com o vizinho
não estou pra isso, eu vou dar o fora
decididamente vou morar sozinho
É minha sogra, mas, tenha paciência
não há quem possa com essa jararaca
meu sogro foi de maca pra assistência
com o corpo todo retalhado à faca
Mas comigo é diferente;
não tenho medo desta cara feia
pego a pistola: disperdiço o pente...
ela descansa e eu vou pra cadeia.

Faustina (Gade) - Jorge Veiga(1958)
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Faustina (Gade) - Terra Trio(1969)
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Faustina (Gade) - Yvette Matos(2009)



A CANÇÃO CONTADA

Em 1937 Almirante gravou o choro "Faustina", regravando-o em 1956. clique aqui!

O texto abaixo é do jornalista e crítico musical José Teles, do "Jornal do Commercio", do Recife:

"Com o surgimento da bossa nova, da sigla MPB mais adiante, passou-se a achar que canção popular tem que ter poesia ou mensagem. Depois, veio o politicamente correto, que tirou muito a graça da música brasileira. Já abordei o assunto aqui, mas ele é inesgotável. No brega e no forró, gêneros cantados pelo povão o politicamente correto continuou, porém, não demorou a resvalar pro duplo sentido, de início engraçado mas em seguida grosseiro.

Antes do bom gosto passar a predominar na música popular urbana, a sogra, a mulher cri-cri, a birita, eram cantadas sem que o autor, muito menos o intérprete, se incomodasse em seguir cartilha do bom-tom. A divina Elizeth Cardoso, por exemplo, fez o maior sucesso com "Eu bebo sim" (”Estou vivendo/tem gente que não bebe está morrendo”), que terminava com um corinho incorretíssimo. O corinho: “Bebida não faz mal a ninguém/bebida não faz mal a ninguém (breque): água faz mal a saúde!”.

A metáfora abundava, mas se usava e pouco o artifício do eufemismo. No samba de breque, "Faustina" (Gadê), Jorge Veiga canta seus desencantos com a chegada inesperada da sogra: “Faustina, corre aqui depressa/olha quem está no portão/é minha sogra com as malas/ela está decidida a morar no porão/vai ser o diabo/vamos ter sururu com o vizinho/não estou pra isso/eu vou dar o fora/decididamente/vou morar sozinho”. Mais à frente, ele mostra a razão de sua decisão: “É minha sogra mas tenha paciência/não há quem possa com esta jararaca/meu sogro foi de maca pra assistência/com o corpo todo retalhado à faca/mas comigo é diferente/não tenho medo desta cara feia/pego a pistola, desperdiço um pente/ela descansa e eu vou pra cadeia”. Detalhe: e o genro tresloucado ainda tava achando que desperdiçava bala ao atirar na genitora da patroa.

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