quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Argumento"



Peço o seu consentimento
Pra falar do sentimento
Que eu guardei na melodia
Pois o samba que apresento
Não é coisa de momento
E nem é só filosofia
Quando o samba vem do peito
Como de fato e de direito
Não tem corte nem coroa
Mas merece o meu respeito
Que eu não quero e não aceito
Batucar um samba à toa

Não vê que minha profissão
Não é fazer intriga
Que meu violão não compra briga
Ninguém faz cantiga
Pra se aborrecer
Só quero lhe dizer com toda honestidade
Que só faz um verso de verdade
Quem tiver verdades pra dizer

Se você disser agora
Que eu cheguei fora de hora
Que meu samba nasce morto
Que essa bossa foi de outrora
Que meu barco foi-se embora
E agora é dono de outro porto
Vou pensar que assim prossigo
Porque quero e nem te ligo
Pois cantando eu me promovo
Ouça bem o que eu lhe digo
Vá cantar um samba antigo
Pra entender o que há de novo.

Argumento (Sidney Miller) - Sidney Miller(1967)
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Argumento (Sidney Miller) - Augusto Pinheiro & Grupo Talua ao vivo(2002)
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A CANÇÃO CONTADA


Escrito em 06/04/2012, pela cantora e compositora Joyce:

Eis aí o flyer do show em que irei cantar as canções do primeiro LP do querido Sidney Miller, lançado pela Elenco em 1967. É uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, que de tempos em tempos apresenta algum disco clássico, geralmente com a presença do artista que gravou, cantando e sendo entrevistado para falar do trabalho em questão.

No caso do Sidney, isso é impossível (e por isso mesmo estarei lá para representá-lo, espero que bem), já que ele morreu em 1980, aos 35 anos, em circunstâncias misteriosas, deixando uma obra pequena e apenas 3 discos gravados. Isso significa que ele tinha somente 22 anos quando compôs e gravou grandes canções como 'O Circo', 'Pede Passagem', 'A Estrada e o Violeiro', 'Menina da Agulha', 'Maria Joana' e outras tantas que estão neste seu primeiríssimo lançamento.
 
Pessoalmente, eu gostaria de mostrar também outras coisas posteriores de sua obra, como as músicas que fazem parte do segundo LP, 'Brasil, Do Guarani ao Guaraná' - outras grandes canções, como a linda e depressiva 'Pois É, Pra Quê', a divertida e crítica 'Maravilhoso' (nesta, ele anuncia premonitoriamente a futura sociedade guiada pela TV em que hoje vivemos), a linda modinha 'Seresta' (na emocionada interpretação de Jards Macalé, que na época também compunha modinhas belas e tristíssimas)... Ou ainda sucessos gravados por outros artistas, como 'Alô Fevereiro', 'É Isso Aí' ('Isso é Problema Dela') e 'Nós, Os Foliões' (esta gravada divinamente por Paulinho da Viola'). Mas não é esse o mote do show que vamos fazer, e sim manter o foco no repertório integral de um único disco.
 
(Importante mencionar aqui que convidei o jovem e talentoso Alfredo del Penho para ser meu par neste show, já que este primeiro disco de Sidney tinha como um dos pontos altos seus duetos com Nara)
 
Sidney nunca foi um artista de sucesso, pelo contrário: era um tímido incurável. Era avesso às luzes do palco, diferentemente de outros colegas de geração - Caetano, Paulinho da Viola, Macalé, todos amigos seus. A timidez era tanta que, num show que fizemos juntos em 1968 (que também tinha no elenco Gutemberg Guarabyra e o Momentoquatro), ele conseguiu convencer o diretor, Paulo Afonso Grisolli, a deixá-lo cantar o show inteiro dentro da cabine de luz, fora das vistas da plateia, no último dia da temporada.
 
Suas músicas tinham um sabor meio antigo, numa hora em que todo o mundo queria reinventar a música popular brasileira. Talvez por isso ele tenha passado despercebido em vida, apesar de no começo da carreira ter sido muito comparado a Chico Buarque, ambos lançados pela mesma Nara Leão. Chico iria logo dar uma reviravolta a partir de 'Roda-Viva' (a canção e a peça), enquanto Sidney aparentemente ficava para trás e se deixava vencer pela doença do alcoolismo, que não dá trégua a ninguém e requer muita fé, força e ajuda externa para que se saia dela. E foi assim, numa fase difícil da vida, que ele acabou partindo antes da hora.
 
Porém, ai, porém... há um culto secreto a Sidney Miller pelo ar. Há toda uma geração de jovens cantores e compositores que se interessa pela obra dele, que tem sido regravada por novos artistas como Roberta Sá, o grupo Casuarina e, bem próximo a mim, minha filha Ana Martins. E a partir do momento em que se anunciou meu show no IMS cantando sua obra, o comentário foi geral, com imprensa e redes sociais noticiando, gente pedindo convites, telefonemas, emails, uma repercussão inesperada, que apenas atesta que existia um desejo contido de que a obra deste 'jovem mestre' (no dizer de Ruy Castro) fosse revista nos dias de hoje.
 
Pois então, vida longa à obra deste amigo querido! e que eu possa estar à altura da tarefa que me foi proposta.
 
("Ouça bem o que eu lhe digo/ vá cantar um samba antigo/ pra entender o que há de novo" - trecho de 'Argumento', de Sidney Miller)
 

Aqui o show na íntegra (17/04/2012):
 


domingo, 5 de agosto de 2012

"Ciúme sem razão"

Na luz que existe em teu olhar
Eu quero eterno sonhador
Saber porque tu tens ciúme
Se tu resumes a minha vida e todo meu amor.

Se acaso estás longe de mim, longe do meu olhar
Meus dias são tristes sem fim
E as noites sem luar
Se perto estás, tudo me diz o quanto eu sou feliz
Tu tens ciúme, não tens razão
É teu o meu coração.



Ciume sem razao (Braguinha & Alberto Ribeiro) - Avena de Castro(1961)
Ciume sem razao (Braguinha & Alberto Ribeiro) - Orlando Silva(1959)
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Ciume sem razao (Braguinha & Alberto Ribeiro) - Pedro Miranda(2006)
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A CANÇÃO CONTADA

Ao deixar a roupa suja no lugar apropriado, tropecei no diário da minha irmã de treze anos.
Logo pensei: O que eu faço agora?
Eu sempre tive ciúme de minha irmã caçula. Seu sorriso charmoso, sua personalidade cativante e muitos outros talentos ameaçavam meu lugar como filha principal.
Eu competia com ela silenciosamente e via crescer suas habilidades naturais.
Por conseqüência, nós raramente nos falávamos. Eu procurava oportunidades para criticá-la e superar seus feitos.
Agora, seu diário estava aos meus pés. Eu não pensei nas conseqüências. Não levei em conta a sua privacidade, a moralidade de minhas ações, nem seus sentimentos.
Eu apenas saboreei a chance de encontrar segredos suficientes para sujar a reputação de minha concorrente.
Raciocinei que seria meu dever, como irmã mais velha, verificar suas atividades.
Apanhei o livro do chão e o abri. Folheei as páginas, procurando por meu nome, convencida de que descobriria tramas e calúnias.
Quando encontrei, o sangue gelou em meu rosto. Era pior do que eu suspeitava.
Senti-me fraca e sentei-me no chão. Não havia nenhuma conspiração, nenhuma difamação.
Havia uma descrição sucinta de si mesma, de seus objetivos e de seus sonhos, seguidos por um curto resumo da pessoa que mais a inspirava. Eu comecei a chorar.
Eu era sua heroína. Admirava-me por minha personalidade, minhas realizações e, ironicamente, por minha integridade.
Queria ser como eu. Tinha me observado por anos, quieta, maravilhando-se com minhas escolhas e ações. Eu parei a leitura, golpeada pelo crime que havia cometido.
Eu tinha perdido tanta energia para mantê-la fora do meu caminho...
Agora, eu violara sua confiança.
Lendo as sérias palavras que minha irmã tinha escrito, me pareceu derreter uma barreira gelada em meu coração e eu desejei conhecê-la de verdade.
Eu podia, finalmente, pôr de lado a insegurança estúpida que me manteve longe dela por tanto tempo.
Naquela tarde, quando consegui me sustentar sobre as próprias pernas, decidi ir até ela.
Mas, desta vez, para conhecer em vez de julgar, para abraçar em vez de lutar. Para viver como verdadeiras irmãs.
* * *
Por vezes, temos agido como crianças, com relação às pessoas que nos cercam.
Imaginamos que não gostam de nós, que desejam nossa infelicidade, nossa queda.
Importante não estabelecer pré-julgamentos em nenhuma situação, por mais que os fatos conspirem a favor.
Nem sempre será possível descobrir os sentimentos dos outros pelas aparências.
Há pessoas que não conseguem exprimir seus sentimentos e dão impressão de frieza ou indiferença.
Por essa razão é que o pré-julgamento é altamente prejudicial.
Assim sendo, se for preciso imaginar os sentimentos dos outros, façamos esforços para imaginar sempre o melhor.
O ciúme produz o câncer da suspeita, transformando os sonhos de sua esperança em pesadelo cruel, que se converte em enfermidade demorada, a lhe corroer interiormente.
Pense nisso!
Redação do Momento Espírita, com base em
texto de Elisha M. Webster, traduzido
por Sergio Barros.
Em 13.01.2009.

sábado, 4 de agosto de 2012

"Não deixo saudade"

Eu vou navegar até encontrar o porto da felicidade
Como não tenho quem me queira bem
Não deixo e não levo saudade

Navego e procuro encontrar felicidade
Pois quero viver longe bem distante da cidade
Se acaso algum dia reclamarem a minha ausência
Eu fui porque não tive paciência

Eu vou gozar a vida porque estou envelhecendo
A minha mocidade pouco a pouco vai morrendo
Se acaso a minha volta despertar ansiedade
É tarde, já morreu a mocidade


Nao deixo saudade (Roberto Martins & Manuel Ferreira) - Banda Gloria & Cristina Buarque(2008)
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Nao deixo saudade (Roberto Martins & Manuel Ferreira) - Francisco Alves(1934)
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