Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
O filho perguntou pro pai:
"Onde é que tá o meu avô
O meu avô, onde é que tá?"
O pai perguntou pro avô:
"Onde é que tá meu bisavô
Meu bisavô, onde é que tá?"
Avô perguntou "ô bisavô,
Onde é que tá tataravô
Tataravô, onde é que tá?"
Tataravô, bisavô, avô
Pai Xangô, Aganju
Viva egum, babá Alapalá!
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Alapalá, egum, espírito elevado ao céu
Machado alado, asas do anjo Aganju
Alapalá, egum, espírito elevado ao céu
Machado astral, ancestral do metal
Do ferro natural
Do corpo preservado
Embalsamado em bálsamo sagrado
Corpo eterno e nobre de um rei nagô
Xangô
reflete, até nas fotos da capa, a viagem de Gil à Nigéria em 1977, por ocasião do
FESTAC, momento auge, portanto, de sua conexão com a cultura iorubá. A canção
é uma homenagem ao orixá Xangô Aganju e a Babá Alapalá, nome de um egun
muito conhecido na Nigéria e cujo culto continua vivo na Bahia, na Ilha de Itaparica,
no templo Ilê Agboula. A letra utiliza os sons da língua iorubá. Quando escutei essa
música pela primeira vez, no final do filme "Tenda dos Milagres", de Nelson Pereira
dos Santos, pareceu-me fortemente “africana”, como se fosse um ícone da própria
presença iorubá no Brasil. Contudo, uma audição mais analítica permite constatar
que sua textura rítmica é inteiramente binária, não muito distante da música pop
dançante, próxima do rock nacional. Os poucos elementos de acentuação estão a
cargo do contrabaixo e da guitarra, porém todos os instrumentos obedecem ao
compasso binário sem sequer quebrarem os acentos
não joga papel nenhum no arranjo da canção. A impressão de influência iorubá se
restringe, de fato, às palavras Xangô Aganju e Babá Alapalá.
Extraído de “A TRADIÇÃO MUSICAL IORUBÁ NO BRASIL:
UM CRISTAL QUE SE OCULTA E REVELA”
José Jorge de Carvalho
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