quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"Refavela"

Refavela

AIaiá, kiriê
Kiriê, iaiá

A refavela
Revela aquela
Que desce o morro e vem transar
O ambiente
Efervescente
De uma cidade a cintilar

A refavela
Revela o salto
Que o preto pobre tenta dar
Quando se arranca
Do seu barraco
Prum bloco do BNH

A refavela, a refavela, ó
Como é tão bela, como é tão bela, ó

A refavela
Revela a escola
De samba paradoxal
Brasileirinho
Pelo sotaque
Mas de língua internacional

A refavela
Revela o passo
Com que caminha a geração
Do black jovem
Do black-Rio
Da nova dança no salão

Iaiá, kiriê
Kiriê, iaiá

A refavela
Revela o choque
Entre a favela-inferno e o céu
Baby-blue-rock
Sobre a cabeça
De um povo-chocolate-e-mel

A refavela
Revela o sonho
De minha alma, meu coração
De minha gente
Minha semente
Preta Maria, Zé, João

A refavela, a refavela, ó
Como é tão bela, como é tão bela, ó

A refavela
Alegoria
Elegia, alegria e dor
Rico brinquedo
De samba-enredo
Sobre medo, segredo e amor

A refavela
Batuque puro
De samba duro de marfim
Marfim da costa
De uma Nigéria
Miséria, roupa de cetim

Iaiá, kiriê
Kiriê, iáiá.


Refavela (Gilberto Gil) - Gilberto Gil(1977)
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Refavela (Gilberto Gil) - Nair Candia & Jaime Alem(2001)

Refavela (Gilberto Gil) - Gilberto Gil ao vivo



A CANÇÃO CONTADA

Ao sair do Ministério, Gilberto Gil ofereceu a Lula, como jinglemarca para todo governo, sua música "Refazenda" (1975). “Esse governo significa uma refazenda extraordinária para o país. O presidente me relatava há pouco o avanço da agricultura familiar com os biocombustíveis”, dizia o cantor-ex-ministro. Já em "Refavela" (1977), composta por ele depois de uma viagem à África, o cantor propunha outra imagem para nosso afro-país: “A refavela / Revela o choque / Entre a favela-inferno e o céu / (…) A refavela / Alegoria / Elegia, alegria e dor / Rico brinquedo / De samba-enredo / Sobre medo, segredo e amor”. Qual das duas imagens você acha mais sugestiva para o atual momento do Brasil?

Evidentemente, o artista está muito acima do político (o que não é raro). Acho que a declaração do ex-ministro e a bela e utópica letra da canção demonstram apenas uma grande verdade: é mesmo melhor que ele saia cantando do que falando.

"Publicado em 24/09/2008 por Francisco Alambert, que formou-se historiador em 1987 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e fez mestrado (1991) e doutorado (1998) em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), instituição da qual é professor titular desde 2003".

Um comentário:

Anônimo disse...
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