sexta-feira, 29 de maio de 2009

"A favela vai abaixo"

A favela vai abaixo

Minha cabocla, a Favela vai abaixo
Quanta saudade tu terás deste torrão
Da casinha pequenina de madeira
que nos enche de carinho o coração

Que saudades ao nos lembrarmos das promessas
que fizemos constantemente na capela
Pra que Deus nunca deixe de olhar
por nós da malandragem e pelo morro da Favela
Vê agora a ingratidão da humanidade
E o poder da flor sumítica, amarela
que sem brilho vive pela cidade
impondo o desabrigo ao nosso povo da Favela

Minha cabocla, a Favela vai abaixo
Arruma as "troxa", vamo embora pro Bangú
Buraco Quente, adeus pra sempre meu Buraco
Eu só te esqueço no buraco do Caju

Isto deve ser despeito dessa gente
porque o samba não se passa para ela
Porque lá o luar é diferente
Não é como o luar que se vê desta Favela
No Estácio, Querosene ou no Salgueiro
meu mulato não te espero na janela
Vou morar lá na Cidade Nova
pra voltar meu coração para o morro da Favela


A favela vai abaixo (Sinho) - Francisco Alves(1928)
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A favela vai abaixo (Sinho) - Marcos Sacramento & Clara Sandroni & Lira Carioca(1999)


A CANÇÃO CONTADA

Em 1927, quando Alfred Agache afirmou que as favelas teriam de ser erradicadas, o compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, frequentador e defensor do Morro da Favela, escreveu “A favela vai abaixo”. Os primeiros versos citavam as casinhas de madeira, cada vez mais retratadas por intelectuais e artistas: “Minha cabrocha/ A Favela vai abaixo/ Quantas saudades tu terás deste torrão/ Da casinha pequenina de madeira/ Que nos enche de carinho o coração”.

Ao contrário do “Rei do Samba”, Agache se referia às favelas como “lepras” e “chagas”. O elevado custo financeiro e a Revolução de 1930, que levou Getulio Vargas ao poder, contribuíram, porém, para que seu projeto fosse arquivado. O governo de Getulio deixou as favelas em paz por algum tempo e chegou a defender, em determinadas instâncias, os seus moradores contra as ações dos proprietários de terrenos. Isso, decerto, reforçava a imagem do presidente como “pai dos pobres”.

"Texto de Rômulo Costa Mattos"

Contratado pelo prefeito Prado Júnior, o urbanista Alfred Agache elaborou, em 1927, um extenso plano de remodelação da cidade do Rio de Janeiro, que incluía a demolição do morro da Favela, situado próximo da zona portuária. Muito discutido pela imprensa, o projeto inspiraria o samba “A favela vai abaixo”, no qual Sinhô protestava contra a ameaça de desabrigo dos moradores: “Minha cabrocha, a Favela vai abaixo / quanta saudade tu terás deste torrão / (…) / vê agora a ingratidão da humanidade / (…) / impondo o desabrigo ao nosso povo da Favela”.

Contava o poeta Luís Peixoto que o compositor, valendo-se de sua popularidade, chegou a pedir a um ministro de estado sua intercessão junto ao prefeito para que a demolição não se realizasse. Sendo uma das melhores melodias de Sinhô, “A favela vai abaixo” foi destaque numa revista teatral de nome idêntico.

Contrastando com a pesada versão original de Francisco Alves a composição ganhou uma graça especial, bem mais fiel ao estilo do autor, na gravação realizada por Mario Reis, em 1951 (álbum de três discos sobre Sinhô, com preciosos arranjos de Radamés Gnattali). Isso leva a crer que, na dupla formada pelos dois cantores, nos idos de trinta, foi benéfica a influência de Mario sobre Chico, ajudando-o a se desfazer do ranço operístico, incompatível com a interpretação de sambas como este.

"Extraído do site Cifrantiga"

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