Andou chupando muita uva
E até de caminhão
Agora anda dizendo que está de apendicite
Vai entrar no canivete, vai fazer operação
Oi que tem a Florisbela nas cadeiras dela
Andou dizendo que ganhou a flauta de bambu
Abandonou a batucada lá na Praça Onze
E foi dançar o pirolito lá no Grajaú
Caiu o pano da cuíca em boas condições
Apareceu Branca de Neve com os sete anões
E na pensão da dona Estela foram farrear
Quebra, quebra gabiroba quero ver quebrar
Você no baile dos quarenta deu o que falar
Cantando o seu Caramuru, bota o pajé pra brincar
Tira, não tira o pajé, deixa o pajé farrear
Eu não te dou a chupeta, não adianta chorar
Em 2 de abril de 1939, Carmen Miranda gravou "Uva de Caminhão", que Assis compusera no ano anterior clique aqui!. É uma música que se não se diferencia das outras do compositor pela verve, a ironia, possui um componente inédito: a letra coloca num balaio só palavras e expressões da época, Branca de Neve e Os Sete Anões, Caramuru, a pensão de uma Dona Estela, uma Florisbela e "as cadeiras dela", dois locais do Rio, resultando numa salada em que pontifica o "nonsense". O ponto inicial de tudo isso recorria a um costume no Rio de Janeiro, naqueles tempos, de se vender uva em caminhão. Curiosamente, Assis classificava a música de samba-revista.
Extraído do blog “Luzes da cidade” por Francisco Sobreira.
Carmen foi grande intérprete de seus sambas, além de ser apontada como uma das possíveis causas da primeira tentativa de suicídio do compositor, que viria a ter sucesso na terceira. A letra é tão cheia de malícias que atiçaria a imaginação da mente mais puritana. As conotações sexuais e a alusão ao aborto ganham leveza na voz brejeira de Carmen, mas nem por isso as bochechas pudicas bem comportadas deixam de corar. A parte final da canção tem ares dadaístas, mas é facilmente decifrada quando se sabe que a letra é uma colagem de títulos de sambas do carnaval daquele ano, a maioria marchinhas, safadas por si só..
Extraído do blog www.denguemag.com