Façam seu jogo, senhores.
Quanto vale uma criança
Sem brinquedos pra brincar
Encostada ao pé da porta
Sem nem forças pra chorar.
Quanto vale um sorriso
Do menino adormecido
Na infinita madrugada
Em seu sonho colorido.
Façam seu jogo, senhores.
Mãos no bolso, boa ação.
Façam seu jogo, senhores.
Alivia o coração.
Façam seu lance, senhores.
Toda alma quer perdão.
Façam sue lance, senhores,
No mercado da aflição.
Quanto vale a cor do ódio
Nesses olhos de criança,
Que não sabem ver ternura
E que da paz não têm lembrança.
Quanto vale uma lágrima
Triste, vil, em descaminho
Num rostinho de menino
Que tem medo de carinho.
Quanto vale um homem morto
No melhor do seu destino,
Pelo medo assassinado,
Esse resto de menino.
Quanto vale esse meu canto
Que já nasce estrangulado
Pelo nó da indiferença,
Canto tão desesperado
Quanto vale uma crianca (Toquinho & Guarnieri) - Marlene & Toquinho(1973)
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Quanto vale uma crianca (Toquinho & Guarnieri) - Rolando Boldrin(1974)
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A CANÇÃO CONTADA
A terceira fase da parceria Toquinho/Guarnieri deu-se com a peça “Botequim”, onde está inserida a canção "Quanto vale uma criança?", apresentada antes no Rio de Janeiro, no Teatro Princesa Isabel. Depois foi trazida para o Teatro Anchieta, em São Paulo, contando com a participação da cantora Marlene e com a direção de Antônio Pedro. Era o retrato da ditadura que provocava no povo a omissão e a cautela. Uma parceria que surgiu espontaneamente, transformando o trabalho num jogo estimulante e alegre, muito alegre, mesmo nas melodias tristes ou na melancólica constatação dos fatos. E pensando nesta contradição descobrimos nosso otimismo. Acreditamos". Dizia mais, Guarnieri, de Toquinho: "A linha do Toquinho é estar de bem com a vida. Eu entendia e respeitava a posição dele; e ele, por outro lado, respeitava a minha integralmente. Ele vinha com tudo, ânimo e talento, somados. Porque era necessário musicalmente. Criava as músicas com o sentido musical daquilo que estava sendo dito. O que manda no Toquinho é o extraordinário músico que ele é. Um instrumentista que domina o instrumento do jeito que ele domina – essas pessoas são diferentes, são outra coisa. São pessoas que têm uma independência interior muito grande e exigem uma boa proposta artística. Nas nossas conversas, nunca tivemos nenhum tipo de atrito ideológico. Temos o mesmo nível de compreensão das coisas. Éramos autênticos e sinceros nas coisas". Numa parceria desse gênero, teatral, o tema da própria peça predomina nas músicas. Na visão de Toquinho, esse aspecto facilita o compositor. "A gente não percebe que o trabalho está sendo feito de tanto que se envolve com ele. Quando termina, até se espanta com o tamanho dele. A música que fazemos para o teatro visa determinada coisa, não precisamos ficar esperando a divina inspiração. É um trabalho por encomenda, e as coisas encomendadas são mais lógicas, pois já chegam com uma idéia inicial. Não se precisa gastar energia à toa. Além do outro lado saboroso que essa relação me proporcionou, o de conhecer Guarnieri na sua intimidade de autor. Ele trabalhava em cima da hora. Sempre gostei desse ritmo de teatro que exclui o cronômetro, com música saindo de todo lado"
"Extraído do site do Toquinho"
"Extraído do site do Toquinho"
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