sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Tava na roda do samba"

Tava na roda do samba (Salvador Correia) - Almirante e seu Bando dos Tangaras(1932)
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Tava na roda do samba (Salvador Correia) - Os Satelites(1957)


A CANÇÃO CONTADA

"Tava na roda de samba
Quando a polícia chegô
Vamos acabá co'esse samba
Que o delegado mandô..."


Mas não eram em todos os lugares que os batuqueiros corriam ou iam presos, pois muitos ofereciam resistência e, do conflito com a polícia, surgiam até mortes. Mesmo entre eles haviam rivalidades e brigas, sendo os 'valentes' conhecidos devido ao andar gingado, o chapéu tombado, o olhar dormente e a fala cheia de gírias.

Dizem que esses malandros não eram bandidos, mas não gostavam de ficar com o prestígio abalado, por isso, eram generosos com os amigos e cruéis com os inimigos. Além do chapéu tombado, caído geralmente sobre a nuca ou sobre os olhos, usavam lenço no pescoço, camisa listrada, calças largas (boca sino) ou balão (bombacha), caídas sobre os sapatos de bico fino com salto carrapeta (apionado), não faltando a sua inseparável navalha.

E numa mistura de divertimento e passatempo, eles tinham a batucada como sua brincadeira predileta, como se aquilo fosse realmente uma 'escola de malandragem', cujo ritual era alimentado pelos surdos, chocalhos e pandeiros, além dos refrões de desafios, enquanto que no centro da roda, falavam com a cabeça ou com as pernas, mostrando sua destreza para justificar o prestígio de 'bamba' se fosse veterano ou para tirar sua 'patente' se fosse calouro.

Só entrava na roda quem era bamba de fato ou de direito, ou então os novatos que se achavam em condições de enfrentar os antigos. E ali surgiam os golpes mais diversos: a 'rapa', 'tesoura', 'banda', rabo-de-arraia', 'cabeçada', a 'baiana', 'bengala', 'tombo-de-ladeira', e tantos outros. E naquela mistura de corpos suados , corria a cachaça, chamada de 'ventarola' (nos dias de calor), e de 'capote' (quando chovia).

Quando a barra ficava pesada, uma navalha se agitava no ar, provocando um arrepio geral, e, então, um dos batuqueiros caia no chão todo ensagüentado, sendo a sua queda abafada pelo coro que cantava, acompanhado pelo ronco soturno da cuíca de barrica:

"Pau rolô, caiu,
Lá na mata ninguém viu..."

Extraído de "Do batuque à escola de samba", de Jorge Muniz Jr.

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