domingo, 12 de setembro de 2010

"Meia volta" ou "Ana Cristina"

Meia volta ou Ana Cristina

Pelo olhar de Ana Cristina
já passaram tantas dores
que seus olhos de menina
já nem sonham mais
Mas seu jeito de tristinha
pode logo se acabar
se souber dar meia-volta
pra tristeza terminar

Vira, volta, vira a vida,
pelas voltas da alegria
E quem sabe Ana Cristina
pode então cantar

la la la la la la

Só quem der a meia-volta,
volta e meia vai cantar

la la la la la la...

Mas seu jeito de tristinha
pode logo se acabar
se souber dar meia-volta
pra tristeza terminar

Vira, volta, vira a vida,
pelas voltas da alegria
E quem sabe Ana Cristina
pode então cantar

la la la la la la

Só quem der a meia-volta,
volta e meia vai canta

la la la la la la...



Meia volta ou Ana Cristina (Antonio Adolfo & Tiberio Gaspar) - Claudette Soares(1969)
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Meia volta ou Ana Cristina (Antonio Adolfo & Tiberio Gaspar) - Os Pilantrocratas(1969)

Meia volta ou Ana Cristina (Antonio Adolfo & Tiberio Gaspar) - Rogerio Flausino ao vivo



A CANÇÃO CONTADA

No dia do show, o Maracanãzinho era o Coliseu. Um barulho infernal sobrepujava com folga o som que vinha do palco - especialmente insuficiente nas delicadas harmonias de Marcos Valle ou nos desvarios psicodélicos de Gal Costa. Amáveis, as 30 mil pessoas aplaudiam e se divertiam como se aquilo fosse um sábado na praia, mas sem a menor intimidade com os acordes dissonantes ou com as páginas da Cashbox que Sergio Mendes comprava para divulgar seu trabalho. Mas tudo era festa. Até um vendedor de biscoitos foi aplaudido feito artista quando puxou um mar de braços com um saquinho branco. Já era noite quando Wilson Simonal e o Som Três subiram ao palco. "Me lembro como se fosse hoje da expressão no rosto do Simonal no momento em que ele subiu as escadas em direção ao palco do Maracanãzinho e percebeu que enfrentaria 30 mil pessoas", lembra César Mariano. "E 30 mil pessoas que estavam ali para assistir ao Sergio Mendes."


O receio fazia sentido, mas a fome daquelas pessoas por Simonal, todo mundo poderia supor, era grande. "De Cabral a Simonal" era a guinada mais franca de Simonal em direção ao gosto popular. Era um show sem medo de ser encerrado por "Meu limão, meu limoeiro", sem vergonha de enfileirar todos os hits, sem pudores em lançar, por duas horas, todos os ganchos possíveis para o fã carioca que o acompanhara na Excelsior por tantos anos - e que já não o via na telinha havia certo tempo. Ao mesmo tempo, depois de meses no Toneleros e Ginástico, algumas semanas no Bela Vista em São Paulo e outras no Canecão, o show estava fazendo parada na pequena e sofisticada boate Sucata, para um público carioca com dinheiro para gastar. Se "De Cabral a Simonal" já era um show repleto de apelo popular, o condensado de seis ou sete músicas que o cantor preparou para o Maracanãzinho tinha um poder de fogo concentrado.

A panela de pressão foi para os ares logo na música de abertura, "Meia-Volta (Ana Cristina)", uma midtempo escrita por Antônio Adolfo e Tibério Gaspar na sombra de "Sá Marina". Simonal acenou ao público, agradeceu os aplausos e abriu a boca para cantar: "Pelo
Olhar de Ana Cristina..." e 30 mil pessoas encheram seus jovens pulmões para cantar todo o resto da música: "...já passaram tantas dores/ que seus olhos de menina/ já nem sonham mais..." clique aqui!

Extraído do artigo "Trinta Mil por Um" - Biografia ajuda a entender o fenômeno de público que foi o cantor Wilson Simonal, o homem louvado por 30 mil vozes uníssonas no Rio de Janeiro, publicado no site www.rollingstone.com.br

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Tava na roda do samba"

Tava na roda do samba (Salvador Correia) - Almirante e seu Bando dos Tangaras(1932)
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Tava na roda do samba (Salvador Correia) - Os Satelites(1957)


A CANÇÃO CONTADA

"Tava na roda de samba
Quando a polícia chegô
Vamos acabá co'esse samba
Que o delegado mandô..."


Mas não eram em todos os lugares que os batuqueiros corriam ou iam presos, pois muitos ofereciam resistência e, do conflito com a polícia, surgiam até mortes. Mesmo entre eles haviam rivalidades e brigas, sendo os 'valentes' conhecidos devido ao andar gingado, o chapéu tombado, o olhar dormente e a fala cheia de gírias.

Dizem que esses malandros não eram bandidos, mas não gostavam de ficar com o prestígio abalado, por isso, eram generosos com os amigos e cruéis com os inimigos. Além do chapéu tombado, caído geralmente sobre a nuca ou sobre os olhos, usavam lenço no pescoço, camisa listrada, calças largas (boca sino) ou balão (bombacha), caídas sobre os sapatos de bico fino com salto carrapeta (apionado), não faltando a sua inseparável navalha.

E numa mistura de divertimento e passatempo, eles tinham a batucada como sua brincadeira predileta, como se aquilo fosse realmente uma 'escola de malandragem', cujo ritual era alimentado pelos surdos, chocalhos e pandeiros, além dos refrões de desafios, enquanto que no centro da roda, falavam com a cabeça ou com as pernas, mostrando sua destreza para justificar o prestígio de 'bamba' se fosse veterano ou para tirar sua 'patente' se fosse calouro.

Só entrava na roda quem era bamba de fato ou de direito, ou então os novatos que se achavam em condições de enfrentar os antigos. E ali surgiam os golpes mais diversos: a 'rapa', 'tesoura', 'banda', rabo-de-arraia', 'cabeçada', a 'baiana', 'bengala', 'tombo-de-ladeira', e tantos outros. E naquela mistura de corpos suados , corria a cachaça, chamada de 'ventarola' (nos dias de calor), e de 'capote' (quando chovia).

Quando a barra ficava pesada, uma navalha se agitava no ar, provocando um arrepio geral, e, então, um dos batuqueiros caia no chão todo ensagüentado, sendo a sua queda abafada pelo coro que cantava, acompanhado pelo ronco soturno da cuíca de barrica:

"Pau rolô, caiu,
Lá na mata ninguém viu..."

Extraído de "Do batuque à escola de samba", de Jorge Muniz Jr.